Page 20 - Liber do Guerreiro
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adversário impiedoso e disposto a tudo para alcançar os seus propósitos de vitória.
Mas a honrosa missão de proteger e cuidar desta magnífica manifestação física de
capacidade de criação divina chamada terra, tem me fornecido ânimo e alimentado
o desejo de sair vencedor. Entre nós contendores, existe um equilíbrio quase perfei-
to entre nossas capacidades combativas, mas a cada golpe desferido e revidado, a
cada arremetida mais violenta, como que uma certeza de sucesso vai tomando con-
ta da minha essência. Os ataques ocorrem agora, a intervalos mais demorados, evi-
tando-se por ambas a parte, golpes a esmo. Parece existir um acordo, no sentido
de poupar energias, ou pelo menos evitar o seu desperdício. As espadas assumem
um aspecto fulgurante, as energias primitivas liberadas, como que as envolvem em
uma aura magnética e cintilante. Elas, a cada momento que antecede os golpes,
emitem um zumbido e provocam um trovão ao se chocarem. Em determinado ins-
tante parece que adquirem vida própria e que lutam sozinhas, independentes da
nossa vontade, movidas quem sabe, por sua própria alma de objeto sagrado. Deixo-
me então conduzir por essa força sobrenatural, e as energias daqueles que por mi-
nhas mãos desapareceram, lutam agora ao meu lado. Meu adversário igualmente,
recebe este tipo de ajuda, e legiões de guerreiros, se fundem na figura de dois
combatentes. O êxito final, é para mim agora, uma possibilidade palpável, mas de-
verá ainda tardar um pouco, é preciso considerar o rival com respeito, muitas derro-
tas acontecem pelo excesso de confiança, além disso a magnitude da vitória sempre
reside no valor do adversário. Os movimentos bruscos e o arrastar das sandálias,
levantavam jatos de areia fina, existente no local onde nos encontrávamos, o ambi-
ente árido e desolado, trouxe-me a memória uma imagem oposta, a visão de imen-
sas e densas florestas, que compunham a paisagem do planeta a pouco mais de
3000 séculos. Naquele tempo, uma tímida figura, encurvada e esquiva, dava os
seus primeiros passos exploratórios, como protótipo do homem do futuro. Essas i-
mensas florestas o protegiam com seu verde manto, e a outros animais menores de
predadores mais poderosos. A fotossíntese, funcionando então a plena carga, oxi-
genava o planeta, purificando a atmosfera dos gases tóxicos emanados das cons-
tantes e violentas erupções vulcânicas. Num salto temporal daquela para esta épo-
ca, comparando as visões, como se fossem instantâneos fotográficos, a diferença
observada, é brutal. Nos vossos dias restam menos de 10% do total da primitiva
área verde do planeta. O processo de desertificação foi acelerado em progressão
geométrica, nos últimos 80 anos desse século, em 30 anos, perdeu a terra 50% das
áreas florestais, o grande agente predador, o homem. O descontrolado aumento
demográfico, obrigou a presente civilização a expandir de forma equivocada, as re-
giões agricultáveis, invadindo e destruindo, áreas naturais de preservação ambien-
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